Estudo publicado pelo Observatório da Castanha-da-Amazônia (OCA) aponta a necessidade de maior valorização dos atributos socioambientais da atividade
A castanha-da-amazônia é coletada quase que exclusivamente por povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia, tornando a castanheira e seus frutos centrais na conservação da maior floresta tropical do mundo e na manutenção dos modos de vida das populações que a produzem. Mesmo movimentando mais de R$ 2 bilhões por ano, o valor ‘invisível’ que a cadeia de valor da castanha-da-amazônia carrega não é considerado na remuneração dos castanheiros e castanheiras. É o que aponta o estudo “A Castanha-da-Amazônia: Aspectos Econômicos e Mercadológicos da Cadeia de Valor”, publicado pelo Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA) e disponível para download na Biblioteca do Observatório.
“O estudo buscou estimular o diálogo sobre questões que são fundamentais para a cadeia, como a valorização dela e das economias de base florestal, dos produtos e dos produtores extrativistas da Amazônia, mas especialmente as melhores formas para repartir os benefícios socioeconômicos dos envolvidos”, explica Renata Toledo, coordenadora da pesquisa que gerou o estudo.
Considerando os principais elos e as etapas de comercialização, o estudo estima que a cadeia de valor da castanha-da-amazônia movimenta anualmente mais de R$ 2,3 bilhões e as etapas com maior representatividade nessa movimentação financeira são aquelas que estão mais próximas do consumidor: o atacado e o varejo. Esses elos movimentam aproximadamente R$ 1,9 bilhão, que representam 84% do total que a cadeia movimenta, seguidos das usinas processadoras, que movimentam R$ 278 milhões, representando 12% do total do valor.
Por fim, as organizações comunitárias, povos indígenas e comunidades tradicionais que vendem a castanha in natura movimentam R$ 99 milhões, representando apenas 4% do total movimentado na cadeia. “Os indígenas conservam a natureza. E isso não é valorizado pela maioria, como deveria ser. Estamos conservando a nossa terra com nossos conhecimentos, nossa força, e nossa luta”, opina Maria dos Anjos, liderança da aldeia Novo Paraíso, da Terra Indígena (TI) Caititu, do povo Apurinã.
Como tornar a cadeia de valor mais justa
O manejo sustentável de castanha-da-amazônia é uma atividade que produz alimento de alta qualidade nutricional, enquanto protege a floresta. “Esse trabalho tem uma enorme importância para a gestão dos territórios. Temos que entender que esses territórios estão com a floresta em pé por causa do trabalho de ocupação territorial dos castanheiros e castanheiras”, explicou Diogo Henrique Giroto, coordenador do Programa Amazonas da Operação Amazônia Nativa (OPAN).
Apesar dos inúmeros atributos socioambientais que a castanha carrega, eles estão longe de ter um peso significativo na decisão de compra por parte do setor industrial e comercial, já que o preço é o principal fator para tomadas de decisão sobre compras nos elos finais da cadeia de valor. A depender da volatilidade de preços na safra da castanha, ela é substituível por outras nozes e castanhas que muitas vezes são plantadas em monoculturas e não possuem o mesmo valor socioambiental e cultural que a castanha-da-amazônia tem.
“Mudar o cenário não é fácil, mas ele não pode ser deixado para depois. A gente precisa melhorar a infraestrutura produtiva, comercial, logística, fazer o fomento adequado da produção, da gestão e da comercialização da castanha e, especialmente, dar o devido valor aos atributos socioculturais e socioambientais da castanha”, finaliza Renata.
Sobre o Raízes do Purus
Desde a sua primeira edição, que teve início em 2013, o Raízes do Purus, projeto realizado pela OPAN, com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal, busca fortalecer a cadeia produtiva da castanha-da-amazônia, atuando na TI Caititu, realizando oficinas de boas práticas, fortalecendo a organização social e o planejamento coletivo das famílias para as safras e prospectando canais para a comercialização conjunta e mais justa deste produto da sociobiodiversidade. Tais esforços resultaram na estruturação de um arranjo comercial coletivo de castanha do povo Apurinã, por meio do qual, desde 2014, parte da castanha coletada no território é vendida coletivamente.
Sobre a OPAN
A Operação Amazônia Nativa foi a primeira organização indigenista fundada no Brasil, em 1969. Nos últimos anos, suas equipes vêm trabalhando em parceria com povos indígenas no Amazonas e em Mato Grosso, desenvolvendo ações voltadas à garantia dos direitos dos povos, gestão territorial e busca de alternativas de geração de renda baseadas na conservação ambiental e no fortalecimento das culturas indígenas.