Articulação que representa 3 mil manejadores e manejadoras do Amazonas se reuniu presencialmente pela primeira vez desde o início da pandemia de Covid-19
Lideranças do manejo sustentável de pirarucu do povo Paumari do rio Tapauá participaram da primeira reunião presencial do Coletivo Pirarucu desde o início da pandemia de Covid-19, realizada entre os dias 8 e 10 de março, em Manaus. Além de Nilson, José Lino e Rogilson Paumari, que representaram a Associação Indígena do Povo da Água (Aipa), o encontro reuniu manejadores e manejadoras de 8 organizações de base, e representantes de instituições governamentais e não-governamentais que apoiam o manejo. A proposta é promover a mobilização coletiva para o fortalecimento do manejo de pirarucu no estado. O povo Paumari conta, desde 2013, com apoio do Raízes do Purus, realizado pela Operação Amazônia Nativa, com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal, para a implementação do manejo sustentável da espécie em seus territórios.
No evento, cada organização de base de manejadores apresentou o trabalho realizado pelas suas comunidades, o que proporcionou, além da troca de experiências, a identificação de dificuldades em comum, como a baixa remuneração dos manejadores pelo importante trabalho que executam. “Quando as comunidades estão manejando o pirarucu, elas não estão cuidando apenas desta espécie. Toda a biodiversidade é protegida pelos sistemas de vigilância comunitários. Então, nós não estamos beneficiando apenas as comunidades e seus entornos, mas todo o planeta. E isso não é reconhecido”, afirmou Benedito Clemente de Souza, representante da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Médio Purus (Atamp).
A manutenção dos serviços ecossistêmicos prestados pela floresta em pé, como a regulação do clima e do regime de chuvas, e a absorção de gases de efeito estufa da atmosfera, é um dos grandes benefícios socioambientais do manejo sustentável de pirarucu. A contenção de atividades predatórias nos territórios, e a proteção dos lagos, onde vivem os pirarucus, são os primeiros passos para implementar uma iniciativa de manejo. Com sistemas de vigilância fortalecidos, não só os ambientes aquáticos, mas seus entornos ficam mais protegidos, garantindo a conservação de milhares de hectares de florestas.
Tais atributos justificariam a venda do peixe por um valor superior ao praticado atualmente, mas o desconhecimento dos mercados acerca das contribuições socioambientais do manejo fazem com que o pirarucu sustentável não seja diferenciado do pescado ilegal, ou de cativeiro. O Coletivo do Pirarucu vem se mobilizando para que os cerca de 3 mil manejadores e manejadoras que representa tenham suas contribuições reconhecidas e sejam remunerados de forma justa. O grupo teve importantes conquistas, como a inclusão do pirarucu de manejo sustentável na Política de Garantia de Preços Mínimos para os Produtos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio), e a abertura de novos mercados em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Recife.
Nas três Terras Indígenas do povo Paumari do rio Tapauá, o manejo sustentável de pirarucu permitiu que os indígenas retomassem o controle sobre seus territórios, que eram alvos constantes de invasões para a pesca e outras atividades predatórias. “O manejo nos ajudou a comprometer as comunidades com a vigilância. Hoje temos seis bases flutuantes, posicionadas em locais vulneráveis das TIs, e conseguimos controlar os invasores”, explicou José Lino Paumari. Com isso, a população de pirarucu cresceu 631% desde 2009, quando foi feita a primeira contagem. Outras espécies de peixes, quelônios e caças, que estavam escassas, também voltaram à abundância. Além disso, as comunidades têm conseguido evitar o desmatamento em suas terras, mantendo a floresta em pé e contribuindo para reduzir os impactos das mudanças climáticas.
Sobre o Raízes do Purus
O projeto Raízes do Purus é uma iniciativa da OPAN, com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, que visa a contribuir para a conservação da biodiversidade no sudoeste e sul do Amazonas, fortalecendo iniciativas de gestão e o uso sustentável dos recursos naturais das terras indígenas Jarawara/Jamamadi/Kanamanti, Caititu, Paumari do Lago Manissuã, Paumari do Lago Paricá, Paumari do Cuniuá e Banawa, na bacia do rio Purus, e Deni e Kanamari, no rio Juruá.
Sobre a OPAN
A OPAN foi a primeira organização indigenista fundada no Brasil, em 1969. Nos últimos anos, suas equipes vêm trabalhando em parceria com povos indígenas no Amazonas e em Mato Grosso, desenvolvendo ações voltadas para a garantia dos direitos dos povos, gestão territorial e busca de alternativas de geração de renda baseadas na conservação ambiental e no fortalecimento das culturas indígenas.